Os factos e os acontecimentos assentam num plano de grande vulnerabilidade, onde engendrados por Homens, a sua falsificação e/ou omissão, fazem parte da construção de texturas próprias do domínio político. A procura da verdade absoluta não é, nem poderia ser, a preocupação central da inquirição que vamos acompanhando, tornando-se cada vez mais evidente que é a construção consciente de opiniões sobre uma realidade que se apresenta desde o início distorcida e enviesada, que compõe os objetivos dos vários protagonistas que a integram.
Os retratos são vários e antagónicos, a importância de sublinhar as várias opiniões que constroem as narrativas alicerçadas numa visão catastrófica da governação fazem a tentação daqueles que olham para o oportunismo político como o grande momento de afirmação, alimentando uma espiral de escrutínio sem lógica ou conteúdo. Por outro lado, a criação de narrativas defensivas, quiçá clericais, preparadas por verdadeiros profissionais, de modo a transmitir uma tranquilidade inabalável da sua verdade, não conseguem disfarçar um esclarecimento opaco e confuso, na qual a memória nem sempre se atreve a elucidar, tentando sobreviver a pormenores sem substância, mas que, infelizmente, não afastam a desilusão e a perplexidade de quem respeita e dignifica a liberdade.
A força genuína da verdade não deve diminuir-se com o enfrentamento dos poderes instalados, pois, apesar das dificuldades, a violência e a persuasão serão sempre incapazes de a substituir mas passíveis de a destruir! Aqui, sim, estaremos perante a ameaça à democracia.
“Onde toda a gente mente sobre tudo o que é importante, aquele que diz a verdade, que o saiba ou não, começou a agir, também ele se envolveu no trabalho político, pois, no caso improvável de sobreviver, deu um primeiro passo para a mudança do mundo”, disse Hannah Arendt.