Não estranhei, pois, as declarações de Rodrigo Pinto de Barros, Presidente da Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauração e Turismo (APHORT), que tem sede no Porto, no JN, – “embriagados com o turismo, esquecemos as populações”. E continua alertando para os “perigos da massificação e risco do Porto perder interesse enquanto destino”. Ao ler estas afirmações recordei com hóspedes que vieram ao Douro neste fim de semana que, se é verdade que a Área Metropolitana do Porto nos proporciona muitos hóspedes, já é raro recebermos turistas daquela cidade. E concluíamos que o Porto também tem cada vez menos habitantes. Esquecem-se as pessoas, residentes ou visitantes. O Porto, nos últimos tempos, também parece ter-se esquecido da envolvente. E se o excesso de visitantes empurra os residentes, há aspetos fundamentais da qualidade da oferta que deixa de existir.
Não valerá muito insistir nos bons números do turismo para a nossa economia se eles não se refletirem em áreas maiores que, somente, nas principais cidades, abarrotadas. As reações de Barcelona e de Málaga são elucidativas. Parece que também por lá se esqueceram das populações. Em recente artigo no Público, Ricardo Paes Mamede lembrou o relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) que refere: «O turismo pode desempenhar um papel fundamental na promoção do desenvolvimento económico, mas os seus impactos são muitas vezes económica, social e ambientalmente desequilibrados, e os benefícios nem sempre revertem a favor das comunidades locais». Sobretudo quando se tem uma visão parcelar e restrita do território. Daí que ele chame a atenção para a necessidade de saber “gerir fluxos, diversificar ofertas, limitar o seu efeito predatório sobre a habitação nas grandes cidades”.
Se turismo do Douro não é cruzeiros das cinco pontes, nem somente cruzeiros rio acima, como defendi quando tinha responsabilidades no setor, constato haver hoje motivo de congratulação quando as notícias sobre o Douro Superior mostram que também esta sub-região do Douro pode ser potenciada. Os investimentos na linha do Douro e o empenho de privados em aumentar a oferta de quartos nesta zona evidenciam-no. São pequenas unidades, é certo. Que tenham qualidade, que tragam pessoas que interajam com as comunidades locais e contribuam efetivamente para a dinamização da economia regional.