Foi o último ano em que isso aconteceu. Posteriormente, os alunos das escolas primárias rurais deixaram de ir à sede de concelho, passando os referidos exames a ser centralizados nas escolas das próprias aldeias sendo, para o efeito, selecionada, uma delas, que abarcava num determinado raio de ação as que lhes ficavam mais próximas. Os alunos de Guiães, por exemplo, passaram a realizar essas provas na vizinha povoação de Abaças.
Naqueles tempos era habitual, que aqueles cujos pais se preocupavam com os seus filhos para que prosseguissem os estudos no ensino secundário, tentassem obter dos professores, a sua anuência, no sentido de, ao mesmo tempo que frequentavam a 4.ª classe, serem alvo de uma maior atenção, para que no final do ano letivo, concluído com sucesso o exame final, fizessem, de seguida, o exame de admissão aos ensinos liceal e técnico profissional.
Apesar dessa regra, informalmente, instituída, segui um percurso diferente, visto que, após concluir, com êxito, a 4.ª classe, tendo como Mestre-Escola a saudosa Professora Eduarda, só no ano letivo seguinte, me preparei, convenientemente, para realizar o referido exame de admissão, sob a batuta do saudoso, dedicado e exigente Professor Francisco Edgar Ferreira, vila-realense ilustre, que ao lecionar a 4.ª classe na Escola Primária Taveira Araújo, em Guiães, anuiu, sem reservas, ao pedido de minha mãe para que eu pudesse frequentar as aulas, em simultâneo com os seus alunos. Efetuei depois, com sucesso, a respetiva prova de admissão, em julho de 1962, no Liceu Nacional Camilo Castelo Branco e na Escola Industrial e Comercial de Vila Real. Porém, vi-me impedido de frequentar o ensino liceal, como era meu desejo, devido ao facto de, nessa época, existir uma disposição legal que só permitia a matrícula nos liceus até aos 12 anos de idade. Como iria perfazer os 13 em setembro, vi, assim, frustrado o objetivo inicial, pelo que tive de optar pelo ensino técnico-profissional.
Após a conclusão da admissão, e enquanto não se iniciava o novo ciclo escolar, entre agosto e outubro de 1962, acompanhei o meu progenitor que, sendo pintor de arte sacra, calcorreava vezes sem conta algumas localidades, sempre que era solicitado para trabalhos de restauro de igrejas e pequenas capelas existentes na vasta região transmontana – duriense. Um desses destinos teve por azimute uma pequena aldeia, Vila Chã do Monte, pertencente à freguesia de S. João de Tarouca, situada numa zona recôndita, da serra de Leomil, onde tudo faltava, sem água canalizada e sem luz elétrica e cujo acesso se fazia por um pequeno caminho de terra batida. Tempos difíceis, devo confessar. Contudo, apraz-me registar o facto de ter visitado, pela primeira vez, o Mosteiro Igreja de S. João de Tarouca, fundado pela Ordem de Cister, no sec. XII, que nessa idade me fascinou pela preponderância dos elementos românicos e góticos, que o caracterizam.