O momento Açores, que intentou desconstruir o posicionamento tático da Aliança Democrática (AD) em relação ao Chega, e a clareza do secretário-geral do Partido Socialista (PS), Pedro Nuno Santos, no seu posicionamento pós-eleitoral, que não ganhando as eleições, e havendo uma maioria de direita, não apresentará nem viabilizará nenhuma moção de rejeição, compõem dois de vários exemplos demonstrativos da necessidade de condicionar a ação política do adversário e assim ganhar uma vantagem competitiva e eleitoral.
Todavia, apesar do jogo das narrativas discursivas, que definem um posicionamento tático e estratégico importante na linha orientadora dos vários partidos políticos, o pragmatismo de construir acordos parlamentares e governativos, tornar-se-á cada vez mais uma realidade na nossa vida democrática.
A palavra “forlig”, frequente na política dinamarquesa, coloca o ênfase na conciliação, na negociação como um processo vinculativo e essencial para o modelo democrático, bem como para o desenvolvimento económico do país. Esta práxis política dinamarquesa, ultrapassado o bipartidarismo, permite aos governos minoritários a possibilidade de envolver os partidos interessados num “contrato de cavalheiros”, onde a governação é assegurada pela ausência de uma maioria de oposição parlamentar.
A visão de uma geometria política complexa após as eleições de 10 de março exige uma maturidade democrática, para construir a convergência necessária e vinculativa que proporcione a estabilidade à vida dos portugueses, até porque, como conta a história política dinamarquesa “(…) a vida política deve ensinar (…) que o que nasce da própria prática política, das negociações políticas, às vezes pode ser vinculativo e até mais vinculativo do que o que é fixado por leis.”
Posto isto, cavalheiros precisam-se!