Nessa festa do ano de 1974, os músicos tocaram com galhardia no arraial, que terminou pelas 6 da madrugada. E esses artistas não tiveram razão de queixa quanto à hospitalidade de gente generosa que sabe receber como ninguém… Comeram e beberam até à exaustão dos apetites.
No regresso à camioneta, um músico mais afoito à sofreguidão da bebida, plasmava-se olhando para uma deslumbrante mulher perdendo-se na vista toldada pelo efeito das mixórdias… na fantasia do vislumbre, o artista do trombone, completamente embriagado, estatela-se no meio de um rego de água que corria ligeira e viva para o milho farto de um lameiro e adormece como um justo… o espanto da mulher diluiu-se em risadas de provocação e histeria. Com a gordura e o peso do músico a água é desviada, saindo do seu curso.
De repente, surge do lameiro um homem de sacho na mão a vociferar porque a água não chegava à rega do milho… Quando viu um trombone agarrado às mãos de um homem e este a resfolgar como guerreiro depois de combate, logo se aprontou para ir buscar ajuda aos músicos que sonolentos e trôpegos marchavam para junto da camioneta.
Tímido ainda, o Sol escancara a sua luz para acariciar os corpos dormentes dos guerreiros tocadores. Estes deleitam-se ouvindo o melancólico tanger das vacas que já bem cedo pastavam.
No regresso, a Banda da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro dirigida pelo maestro José Luís Silveira, já em Mateus desfila numa bela arruada, exibindo uma marcha galvanizante até à capela de frei Vicente… A arte, suprema arte da música que em qualquer ocasião exalta e surpreende, espiritualiza e engrandece os corações…
Fundada por alvará régio de 1905, a Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro é uma instituição centenária, reconhecida pelos poderes públicos e pela sociedade civil. A Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro, tem sabido adaptar-se aos ritmos dos tempos, com renovado dinamismo e redobrado entusiasmo no cumprimento da sua missão estatuária, como o promover o seu património natural, histórico e cultural, bem como reforçar os laços entre a comunidade transmontano- duriense em Lisboa.
A gastronomia e o artesanato têm sido os embaixadores privilegiados de uma Região feita por homens e mulheres de granito, de um só rosto e de uma fé alicerçada na partilha dos valores transmontanos e durienses, valores do trabalho árduo, da probidade e da palavra dada…
Também a Banda Musical da Casa de Trás os-Montes e Alto Douro, foi ao longo de dezenas de anos uma coletividade que valorizou e promoveu a Casa Regionalista mais antiga do mundo, com sede na nossa capital.