Segunda-feira, 2 de Dezembro de 2024
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Joana Araújo
Joana Araújo
Médica Interna de Medicina Geral e Familiar

A empatia na prática da medicina

Crucial no desenvolvimento de relações interpessoais e na construção da sociedade

A empatia é a capacidade de compreender o outro, através do processo imaginativo de nos colocarmos na “pele” de outrem; é distintiva do ser humano e é crucial no desenvolvimento de relações interpessoais e na construção da sociedade.

“Empatizar” constitui um processo cognitivo e emocional complexo, com início nos primeiros anos de vida através do brincar (por imitação, em jogos de “faz de conta”, etc). Contudo, o aumento do tempo de ecrã e consequente diminuição da interação humana tem prejudicado a sua aquisição.

Na medicina, a empatia é fulcral na relação médico-doente, implícita no método de consulta centrado no doente (em oposição à abordagem paternalista). Este método pressupõe comunicação eficaz, priorização de problemas, tanto na perspetiva do doente como do médico, valorização das expectativas do doente e estabelecimento de uma aliança terapêutica. Assim, a empatia promove uma melhoria no diagnóstico e tratamento: no diagnóstico, pois permite uma relação de confiança e transparência entre o doente e o médico, facilitando a comunicação desinibida dos sintomas e uma melhor compreensão dos problemas; no tratamento, porque facilita o esclarecimento de dúvidas, o envolvimento do doente na decisão terapêutica e a adesão ao tratamento.

Na prática clínica, é frequente depararmo-nos com problemas médicos que, podendo ser relativamente fáceis de diagnosticar, têm subjacentes preocupações e angústias do doente, com impacto negativo na sua saúde física e mental, dificultando a resolução rápida e eficaz da condição clínica. Habitualmente, o sofrimento do doente não é manifestado espontaneamente. Apenas o interesse e compreensão do médico, através da capacidade de ouvir e empatizar, são capazes de fazer essas queixas (de foro mais psicológico) emergir. Deste modo, a relação médico-doente reforça-se, com vantagens que se estendem para além da melhoria clínica: o doente atinge um novo nível de satisfação com o ato médico e melhora a sua compreensão e adesão terapêutica; por sua vez, o médico amplia a satisfação com o momento da consulta, melhorando o seu bem-estar e capacidade de resiliência.

Uma boa relação médico-doente e comunicação clínica eficaz requerem dedicação e disponibilidade de ambos os partidos. Do lado do doente, fatores como traços da personalidade ou experiências prévias podem causar desafios particulares, exigindo maior empatia e compaixão por parte do médico. Por sua vez, a crescente carga de trabalho do médico e tempo de consulta limitado retiram a energia necessária para o envolvimento de forma próxima e humana.

É com a experiência e o reconhecimento das vantagens de uma boa relação médico-doente que se compreende a importância da construção e valorização da empatia na prática clínica. A visão paternalista está ultrapassada; é necessária a abordagem holística do doente, com consideração do seu contexto biológico, psicossocial e cultural, a sua capacitação e a decisão partilhada.

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