Sexta-feira, 26 de Julho de 2024
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Luís Pereira
Luís Pereira
Historiador e Arqueólogo. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

Património e o futuro (II)

A mudança é algo inevitável. Surge por necessidade, por evolução, por adaptação ou por circunstâncias e isto provoca o agrado e o desagrado da população.

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“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” (José Mário Branco 1971) e mesmo assim o património fica na paisagem e na memória das pessoas, sendo algo que não conseguem apagar facilmente através de demolições quando, o património faz parte inerente do sentido de identidade.

Apesar de camuflada em plena rua, os símbolos e a arte gravada numa rocha não era considerada localmente como património o que obrigou a uma chamada de atenção sobre a necessidade de identificação e proteção deste património em pleno centro da cidade (“Vestígios com arte rupestres registados pela DGPC” in VTM de 15 de abril de 2021).

Um caso notório de falta de um plano de salvaguarda do património local quando se olha para uma avenida que pretende criar “uma nova identidade cultural” a custo da perda de património, tal como também é notório que os “achados” de duas fontes cobertas continuam esquecidas e não valorizadas, juntamente ao penedo com arte rupestre na rua Marechal Teixeira Rebelo.

As políticas de salvaguarda do património exigem vontade política em assumir um trabalho contínuo que garanta uma atualização do estado do conhecimento, delimitações de áreas arqueológicas, precaução e vontade de prever situações que possam provocar impactos negativos sobre património conhecido.

O rigor de um Plano Diretor Municipal com a carta de condicionantes patrimoniais permite também articular novos projetos urbanísticos e assegurar que “coisas velhas” não sejam apenas inertes inúteis, mas sim projetos que perdurem no futuro.

“O património fica na paisagem e na memória das pessoas, sendo algo que não conseguem apagar facilmente através de demolições quando, o património faz parte inerente do sentido de identidade”

Um plano de pormenor garante o respeito pelas arquiteturas existentes no centro histórico, citadino ou em meio rural, onde se observam construções tradicionais e que no subsolo podem “esconder” vestígios tão antigos quanto a presença humana no território, algo que infelizmente continua a não ser conhecido, aceite ou valorizado em Vila Real.

O património natural e edificado podem também ser um motor de desenvolvimento local e de fixação populacional em especial nas áreas mais despovoadas, partindo do reaproveitamento de edifícios antigos, da divulgação dos produtos regionais feitos com o conhecimento herdado oralmente ao longo de gerações e da promoção através do turismo, que dá a conhecer ao público geral as localidades, as gentes e os produtos que fazem a diferença.

Aqui vemos o quão importante é o apoio às associações locais que colmatam essas necessidades ao contrário de apenas o apoio às grandes superfícies e aos negócios pseudo-industriais. Estes agentes culturais são determinantes para a salvaguarda do património e da cultura, que mesmo com pouco financiamento local ou apoio estatal conseguem (a seu custo e sacrifício) realizar trabalhos e ações exemplares no território e marcam a sua presença através do contributo para o desenvolvimento intelectual do interior.

O património não deve ser utilizado como arma de arremesso, útil apenas para discursos de ocasião, nem tão pouco selecionado para ser promovido e apoiado cegamente, ficando-se com a ideia que há uma seleção propositada e conveniente sobre o que entendem que deve ser promovido, algo também abordado no “Património moldado” (in VTM de 13 janeiro de 2021).

Orgulhemo-nos de pela primeira vez o património local estar contemplado nos programas eleitorais de 2021 e a necessidade, que embora seja tardia, de falar publicamente sobre este tema pois um povo sem memória (património) é um povo sem história.

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