Sábado, 7 de Dezembro de 2024
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Quem matou Jesus?

Vamos celebrar o grande acontecimento da vida de Jesus Cristo e o grande mistério da vida cristã: a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.

Diz-se mistério porque não conseguimos abarcar todo seu sentido e toda a sua verdade, que só Deus verdadeiramente sabe. Não podemos deixar que colocar as questões: por que é que morreu Jesus? Qual o sentido da sua morte?

Penso que será consensual afirmar que Jesus morreu por motivos religiosos. Mereceu, talvez, das autoridades romanas alguma vigilância, mas nunca foi uma séria ameaça política para o poder imperial e político, nem visto como tal. Desde o início do seu ministério público, Jesus aparece como contestatário do judaísmo oficial do seu tempo, que estava organizado à volta do templo de Jerusalém e da Lei de Moisés, e muito rapidamente começou a ter violentos confrontos morais e doutrinais com as autoridades religiosas, os fariseus, saduceus, doutores da lei e escribas, que defendiam muito bem as tradições e práticas que herdaram. Sem desvalorizar a responsabilidade destes e dos romanos na morte de Jesus, o teólogo católico, Joseph Moingt, culpa a religião em geral pela morte de Jesus. Jesus abalou os fundamentos e as referências em que as religiões depositam a confiança delas. “A liberdade da sua palavra e da sua busca de Deus desestabilizava as instituições religiosas, lançava o descrédito sobre as práticas religiosas demasiado seguras de si mesmas; desviava o curso das tradições religiosas recebidas e aceites”, afirma Moingt.

De alguma forma, Jesus pretendeu transformar a religião, que, como afirma Moingt, “tende sempre a colocar-se no lugar de Deus, a obrigar as pessoas a passar por ela para encontrarem Deus. No entender de muita gente, encontra-se Deus no culto e nas cerimónias religiosas, e em nenhum outro lado. A religião reduz-se assim às obrigações e às tradições religiosas, com as quais se julga ter acesso a Deus ou contentar Deus. Foi uma tal conceção religiosa que Jesus rompeu”.

Jesus pretendeu libertar as pessoas da opressão do sagrado e da religião e da servidão, terrores e medos de que estava feita, do confinamento do sagrado, que geria o acesso a Deus, quis libertar Deus de lugares sagrados, quis abolir a relação com Deus assente em sacrifícios e obediência a leis, e convidou as pessoas a se abrirem a um tempo novo, a que chama Reino de Deus, e a centrar a vida no amor a Deus e aos outros, que a partir de agora substituem todas as leis e sacrifícios. Tal ousadia teve um preço.

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