Domingo, 19 de Maio de 2024
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A vida não é só prazer

Um estudo, realizado pela Organização Mundial de Saúde sobre os efeitos da pandemia nos adolescentes, e porque não dizer também em muitos adultos, revela dados que já mais ou menos suspeitávamos: cresceu o sentimento de infelicidade, solidão e tristeza entre os jovens, aumentou o consumo de ansiolíticos e antidepressivos, assim como a dependência das redes sociais.

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Para lá da pandemia, os psicólogos culpam as atuais exageradas expectativas da sociedade e os sinistros ideais da cultura dominante: exige-se muito do desempenho escolar, qual prova do valor de cada um, e vive-se na pressão de se mostrar que se é bem-sucedido, bonito, perfeito, com um corpo ideal.

Além disso, decretou-se que ser feliz é viver permanentemente de prazer e fruição e só viver de experiências e sensações que causem grande gozo e satisfação, fazer coisas sempre muito divertidas e agradáveis. Eu diria que temos vindo a implementar nas mentalidades e comportamentos a fórmula perfeita para sermos infelizes, fórmula que já vigorava antes da pandemia e que esta agudizou. Andamos atrás daquilo que dificilmente poderemos ser e ter sempre. A vida não é assim, nem se reduz apenas a estes ideais. Temos de questionar as atuais expectativas e os ideais que imperam na cultura atual.

Como afirma a psiquiatra Anna Lembke: “o consumo excessivo e a constante busca de prazer pelo prazer são a verdadeira causa da nossa infelicidade”. E a psicóloga Silvia Álava chama a atenção que “atualmente, confundimos a felicidade com a sensação de alegria”, e “hoje em dia, o problema é associarmos a felicidade ao hedonismo, ou seja, ao prazer. Não é viável ter emoções agradáveis 24 horas por dia, nos sete dias da semana”. A vida também exige sacrifício, abnegação, disciplina, persistência, resiliência, desprendimento, doação, dedicação, luta, trabalho, o fazer-se, muitas vezes, o que não é agradável. E deixa uma perspetiva mais abrangente e equilibrada da felicidade: “associada ao crescimento pessoal, o de vivermos de acordo com os nossos valores e princípios e encontrarmos neles um sentido para a nossa vida”, e “a felicidade não está tão fora de nós mesmo como muitas vezes pensamos”.

Penso que é claro: o prazer não pode estar no centro da vida. Não temos de ser bem-sucedidos em tudo, perfeitos em tudo, nem temos de ter um corpo perfeito. Nem tenho de ser igual a ninguém. Aprendamos a gostar mais de nós, centremo-nos no ser pessoa, com valores e princípios, buscando servir a vida e os outros.

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